sábado, 30 de maio de 2009

Assombração


ast - 16x22
Lembro-me como se fosse hoje... Aproximei-me da casa, muito grande e sólida, limada pelo tempo, expressão cansada como a face de um velho. As janelas e portas estavam cerradas. Forte cerração a cobria. Súbito, uma das janelas se abriu e avultou figura de mulher vestida de branco, alvo véu a cobrir-lhe o rosto. Estremeci e ameacei fugir. A aparição, entretanto, sorriu e com um aceno de mão convidou-me a entrar na casa. Evidentemente que não entrei, mas, ainda hoje, quarenta anos afastando-me do acontecido, lamento não ter entrado. Existem coisas em nossa infância que, uma vez vividas, nos fariam adultos mais corajosos e confiantes. Uma pergunta me persegue deste então: por que não entrei na casa? Por que amedrontei-me diante da aparição? Se tivesse entrado, que significado isso teria hoje em minha vida? Teria sido melhor ou pior? Mais destemido? Não sei... Morrerei sem saber.

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Quem sou eu

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Manoel Soares Magalhães, 54 anos, é pelotense. Jornalista, escritor e pintor naïf, tem cinco livros publicados: Guerra Silenciosa – livro-reportagem; Dois Textos Marginais – contos; O Abismo na Gaveta – romance; O Homem que Brigava com Deus – romance; Vampiros - romance. Magalhães também é autor teatral e roteirista de cinema. Em 1982 ganhou o Prêmio João Simões Lopes Neto – gênero teatro, e em 2005, no mesmo Prêmio – gênero contos, foi finalista com o conto A Mosca, publicado na antologia de Contos João Simões Lopes Neto. Atualmente, além de escrever, prepara exposição de arte, pintando as charqueadas e os casarões de Pelotas no estilo naïf (primitivo). Como jornalista trabalhou no Diário Popular, Pelotas; no Diário Catarinense, Florianópolis; e Correio Braziliense, Brasília. Viajou pelo país como free-lance, vendendo reportagens para vários jornais brasileiros.