sábado, 30 de maio de 2009

Assombração


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Lembro-me como se fosse hoje... Aproximei-me da casa, muito grande e sólida, limada pelo tempo, expressão cansada como a face de um velho. As janelas e portas estavam cerradas. Forte cerração a cobria. Súbito, uma das janelas se abriu e avultou figura de mulher vestida de branco, alvo véu a cobrir-lhe o rosto. Estremeci e ameacei fugir. A aparição, entretanto, sorriu e com um aceno de mão convidou-me a entrar na casa. Evidentemente que não entrei, mas, ainda hoje, quarenta anos afastando-me do acontecido, lamento não ter entrado. Existem coisas em nossa infância que, uma vez vividas, nos fariam adultos mais corajosos e confiantes. Uma pergunta me persegue deste então: por que não entrei na casa? Por que amedrontei-me diante da aparição? Se tivesse entrado, que significado isso teria hoje em minha vida? Teria sido melhor ou pior? Mais destemido? Não sei... Morrerei sem saber.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Casa de Deus

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Desde sempre eu soube que Deus faz pouco caso do tamanho de Sua Casa. Pode ser majestoso templo, imponente como a Catedral de Burgos, na Espanha, ou pequena capela que se confunde com a vegetação, com o mato. Tanto faz. Sua presença é forte, reveladora, em ambas. Cabe a nós entendermos Sua mensagem e dela fazermos o melhor proveito. Mistério é mistério, seja na Basílica de São Pedro ou em diminuto templo de pau-a-pique.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Padroeiro


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A Catedral São Francisco de Paula é de uma suntuosidade ímpar, orgulho dos pelotenses. Difícil é passar ao largo sem admirar suas monumentais linhas, evocando a presença divina. Em seu interior existem belos afrescos do pintor italiano Aldo Locatelli, que chegou a Pelotas em 1948, a convite do bispo Dom Antônio Záttera.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Grande Mãe



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Em minhas caminhadas pelo campo, bloco de desenho à mão, atenção redobrada ao cenário, esgarçando o olhar em todas as direções, muitas vezes em imaginação vislumbrei imagens suspensas. Entre fiapos de nuvens surgiam imagens de anjos, igrejas grandes e pequenas. A Grande Mãe é uma dessas representações concebidas durante caminhada no campo. Não me perguntem como elas surgem, pois não saberia lhes dizer. A arte naïf, enfim, permite a edificação de mundos coloridos onde tudo é possível, inclusive o trânsito da terra ao céu, num encontro de humanos e entidades divinais. O homem, em sua caminhada terrena, que não é nada fácil, sempre almejou contatos sobrenaturais. Não é por outra razão que se mantém atento ao céu na expectativa de que, entre nuvens, um milagre se realize. Se na vida real isso nos parece impossível, a arte primitiva o realiza plenamente.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Nossa Senhora Aparecida



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Conheci há muitos anos atrás, na Bahia, mais exatamente em Porto Seguro, um velho pescador de nome Antão. Certa manhã, rútilo sol nascendo das entranhas do mar, falou-me de uma "visagem". Estava saindo de seu barraco, despedindo-se da mulher, quando, à margem do oceano, vislumbrou a Santa. Estava lá, imponente, soberana, protegendo os pescadores que se aventuravam em direção ao mar revolto. Seus olhos verteram lágrimas e, sorrindo, beijou a face de Toninha e foi-se meio trêmulo, porém feliz e seguro.

Auto-retrato

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Infância... Perdida meio a bruma... De quando em quando ela nos invade com suas lembranças e signos. Deixamo-nos transbordar até a borda, coração aos saltos, corrente sanguínea acelerada.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A pescaria de Deus




















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Minha mãe costumava dizer que Deus é um pescador. Comentava isso ao pé do fogão a lenha, olhos dançarinos, velado sorriso nos lábios. Fala mansa, recomendava-me ficar atento a Ele, pois seu "anzol" a qualquer momento poderia desabar diante de nosso nariz, tentando-nos. Eu ficava muito sério, imaginando o que o Senhor haveria de querer conosco, grandes pecadores que éramos - no dizer do padre Agostinho no alto do púlpito, olhar de fogo. Experimentando abalos no corpo, às vezes eu corria em direção ao campo aberto e ficava olhando as alturas na expectativa de ver o tal "anzol". Jamais ele balançou a minha frente como minha mãe argumentara, mas, claro, "ele" existe e se nós permitirmos seremos, sim, fisgados pelo Senhor que está sempre disposto para uma "conversinha" a sós conosco.

O grande sonho








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Quando menino costumava deitar-me de costas no chão e ficar admirando o céu. Observava a caravana de nuvens, imaginando-as figuras de animais. Dragões, elevantes, girafas e etc., disparavam rumo ao horizonte. Permanecia horas assim, até a noite chegar deitando um lençol cravejado de diamantes sobre a vila, sossegando-a. Era hora de voltar para casa, jantar e inventar outras brincadeiras. A mais divertida era olhar o jogo de luz e sombra que o lampião a querosene realizava nas paredes. Muitos de meus personagens, embora disso eu não soubesse, foram "criados" nessas noites tranqüilas, ouvidos atentos aos estalos da madeira do chalé, sussurrando com as sombras.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Escalada

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Nós humanos nutrimos desejos de ascenção. Subir é uma necessidade que se impõe, seja no plano físico ou no espiritual. Nem sempre conseguimos tal intento, escravos que somos de nossas limitações. Entretanto, falhando ou não, o impulso pela ascese permanece inalterado.

Ascese



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Há muitos anos, caminhando pelo campo, enxerguei pequena capela boiando na manhã recém parida. Jamais fui religioso, ainda que minhas telas desmintam tal assertiva. Entretanto, por uma questão atávica, fico emocionado diante de pequenas capelas, deixando-me invadir por seu misterioso silêncio.

Revoada de anjos



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A maioria das pessoas não acredita, mas os anjos estão por perto, sim. Nem sempre com sua característica conhecida, como revela a tela ao lado, mas escondidos atrás de pessoas comuns que por nós cruzam todos os dias. Estejamos, pois, alertas... Um anjo pode entrar em nossa vida a qualquer momento. Duvidam? Eu não duvidaria.

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Quem sou eu

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Manoel Soares Magalhães, 54 anos, é pelotense. Jornalista, escritor e pintor naïf, tem cinco livros publicados: Guerra Silenciosa – livro-reportagem; Dois Textos Marginais – contos; O Abismo na Gaveta – romance; O Homem que Brigava com Deus – romance; Vampiros - romance. Magalhães também é autor teatral e roteirista de cinema. Em 1982 ganhou o Prêmio João Simões Lopes Neto – gênero teatro, e em 2005, no mesmo Prêmio – gênero contos, foi finalista com o conto A Mosca, publicado na antologia de Contos João Simões Lopes Neto. Atualmente, além de escrever, prepara exposição de arte, pintando as charqueadas e os casarões de Pelotas no estilo naïf (primitivo). Como jornalista trabalhou no Diário Popular, Pelotas; no Diário Catarinense, Florianópolis; e Correio Braziliense, Brasília. Viajou pelo país como free-lance, vendendo reportagens para vários jornais brasileiros.